A lista de produtos orgânicos que estão conquistando as gôndolas dos supermercados não para de crescer.
No último ano, as iguarias ganharam espaço exclusivo nos corredores, com direito a placas explicativas. Mas a produção nacional ainda insuficiente leva o varejo a importar rótulos made in Espanha, por exemplo. Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), as vendas de produtos sem agrotóxicos deve alcançar R$ 30 milhões em 2012 - participação ainda tímida frente às vendas totais dos supermercadista no Estado ro Rio Grande do Sul (R$ 15 bilhões). "O gaúcho é o consumidor com maior preocupação em relação à qualidade de vida e ele está disposto a pagar até 40% a mais por produtos saudáveis", avalia o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo. De acordo com o dirigente, o destaque em termos de participação do segmento na comercialização, hoje, se dá no setor hortifruti, onde 10% das vendas, em média, correspondem a orgânicos. E a aposta é que este percentual dobre nos próximos cinco anos.
Mas há também quem prefira as feiras livres, onde impera a venda direta do produtor ao consumidor. Comprar nesses locais é a melhor forma de consumir orgânicos a um custo mais acessível, avalia o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura (Mapa), Rogério Dias. Segundo ele, sem intermediários, a produção local, que percorre distâncias menores, também é fortalecida. Ganha o consumidor, ganha o agricultor.
O funcionário público Jânio Bertollo Marcon, 50 anos, sabe que a salada do almoço de domingo pode sair bem mais barata no supermercado, mas o sabor e a qualidade compensam os centavos gastos a mais. Ele conhece praticamente todos os feirantes - cerca de 40 - da Feira Ecológica, no bairro Menino Deus, na Capital, pelo nome. Também pudera: frequenta desde as suas primeiras edições. Nascido em Jaguari, na região Central do Estado, é lá que ele reencontra aromas e sabores que marcaram a sua infância. "Venho duas vezes por semana para ter alimentos mais frescos, já que são recém colhidos. Também faço encomendas e aproveito para pegar algumas dicas com o pessoal sobre doenças de plantas para repassá-las para parentes que moram no Interior."
O agricultor é outro que se beneficia da venda direta. Em média, o valor do produto orgânico é 30% superior ao convencional. Olair Nunes dos Santos, 52 anos, de Nova Santa Rita, é um deles. Hoje, quase tudo o que é colhido na propriedade de 12 hectares é comercializado na feira, que ocorre quartas-feiras e sábados no pátio da Secretária da Agricultura (Seapa). Santos consegue enxergar benefícios além do preço diferenciado, a começar pela sua saúde. Há 23 anos, ele decidiu que "os venenos" não iriam mais fazer mal a sua família. Os olhos esverdeados viram, assustados, vizinhos e colegas da Associação Grupo do Erval terem que buscar auxílio médico depois de uma intoxicação. Assentado da reforma agrária, o agricultor conta que o incentivo do governo foi fundamental para a transição.
Além disso, Santos preza pelos laços afetivos com o público. "São mais do que clientes, viraram amigos." Apesar do movimento intenso, no dia em que a reportagem foi à feira, Santos conseguiu dar atenção a um grupo de 15 alunos do Ciep Mané Garrincha, conduzido pela professora Beatriz Lopes, e saciar a curiosidade dos pequenos. Mas nem sempre foi assim. Quando a feira começou, há 15 anos, eram duas bancas para consumidores escassos.
FONTE: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=117&Numero=324&Caderno=11&Noticia=455770