O processo de certificação praticado pelos
agricultores orgânicos do estado do Rio de Janeiro começou a chamar a
atenção de outros países, disse à Agência Brasil o diretor do Instituto de Agronomia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Antonio Carlos Abboud. Ele falou sobre o setor,
durante o Seminário Diálogos para Prática do Desenvolvimento
Sustentável, que o Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável da UFRRJ promoverá semanalmente no Clube de Engenharia até o final do ano.
Formada por pequenos produtores rurais, a produção fluminense de
alimentos orgânicos está voltada principalmente para as hortaliças e é
encontrada na região serrana do estado. Os produtores se associam em
vários núcleos e têm um processo de certificação, o sistema
participativo de garantia (SPG), que traz uma mensagem de
associativismo. Os pequenos produtores se reúnem em associações para
ganhar escala, tendo em vista que as grandes redes varejistas
(supermercados) adquirem seus produtos orgânicos de entrepostos de
atacado de outros estados, como São Paulo, por exemplo.
De acordo com a Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro
(Abio), que coordena esse sistema no Rio de Janeiro e é a entidade do
setor mais antiga do país, "os SPGs caracterizam-se pelo controle
social, pela participação e pela responsabilidade de todos os membros
pelo cumprimento dos regulamentos da produção orgânica". Os membros do
SPG estabelecem ações coletivas de avaliação da conformidade dos
fornecedores em relação à regulamentação da produção orgânica,
acrescenta a entidade.
Antonio Carlos Abboud disse que, no início, as pessoas desacreditaram
do SPG, por julgarem que era uma autocertificação. "Mas é um modelo que
tem funcionado muito bem e tem chamado a atenção de outros países. Nós
somos pioneiros nesse modelo. É bastante democrático, adaptado a
pequenos produtores, que estão iniciando ou têm pouco capital".
A vantagem do SPG, reforçou o professor da UFRRJ,
é que ele aproxima o consumidor dos produtores. "Os consumidores que
fazem parte desse circuito têm uma relação próxima, nas feiras, com o
produtor. Cria-se aí um vínculo de confiança entre produtor e
consumidor. É uma coisa sólida. Não é uma coisa fria da certificação por
auditagem". Para ele, o modelo do Rio tem um cunho mais social.
A produção orgânica do Rio de Janeiro tem muita semelhança com a de
Santa Catarina, disse Abboud. Os dois estados têm características de
relevo e de condição fundiária similares. Englobam pequenos produtores
diversificados e, também, a policultura.
Em outros estados, o professor disse que a produção agrícola orgânica é
feita por empreendimentos de grande porte, baseados em ciclos de
monocultura, como a do açúcar, da uva ou da laranja, com os produtos
certificados por instituições creditadas pelo Ministério da Agricultura.
Para Abboud, esses grandes empreendimentos, embora apliquem técnicas
orgânicas, violam alguns princípios da agroecologia, entre os quais a
biodiversidade. "Mas não ferem a legislação". O perfil é diferente dos
SPGs, embora essa seja uma forma também reconhecida pelo ministério.
"Apenas, dispensa-se, nesse caso, o uso de certificadoras".
Abboud não crê que o preço dos produtos orgânicos seja elevado. "O
preço é consequência". Ele acredita que à medida que a demanda por
orgânicos aumente, a oferta também aumentará e, com isso, o preço vai
cair. "Precisa desenvolver o mercado, ampliar a oferta e a demanda, e o
preço vai cair", disse.
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Edição: Fábio Massalli
FONTE: http://www.agrosoft.org.br/agropag/222953.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário