Gente que produz e comercializa frutas e verduras livres de agrotóxicos vê nesse negócio a combinação perfeita entre geração de renda e sustentabilidade para as famílias no Ceará
Se o desafio do homem hoje é aliar desenvolvimento econômico e humano à sustentabilidade do planeta, há um negócio que gente daqui investe com gosto e que tem se mostrado modelo para Greenpeace nenhum botar defeito. É a produção e venda de produtos orgânicos no Ceará.
Socorro Aguiar, de 67 anos de idade, é uma das empreendedoras desse negócio sustentável. Depois de 20 anos de agricultura convencional em Tianguá, ela e o marido resolveram investir na plantação orgânica, livre de agrotóxicos. Hoje, o sítio Santa Maria, de 148 hectares, fornece frutas e verduras orgânicas para grandes supermercados, como Pão de Açúcar e Mercadinhos São Luiz.
“No começo, usávamos agrotóxicos. Mas a terra cansou. Ficou fraca. Depois de algumas conversas com o Serviço brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae) e instituições de assistência agrícola, vimos na produção orgânica uma forma sustentável de manter a terra fértil e, assim, nosso negócio também”, explica Socorro.
Ela conta que a transição para a produção orgânica não foi fácil. “Tem que deixar a terra descansando dois anos, antes de começar. Tem que produzir o próprio adubo e defensivos naturais”, diz. Um dos curiosos defensivos elaborados é o de alho e pimenta. “Batemos no liquidificador e borrifamos nas plantas”, diz. Tudo aprendido com técnicos do Ministério da Agricultura e do Sebrae.
Negócio certificadoPara adquirir a certificação do IBD Certificações e conseguir o selo Produto Orgânico do Brasil (de padrão internacional, segundo o Ministério da Agricultura), foram mais investimentos e paciência. “Quanto investimos? Nem sei. Meu marido e o contador controlam isso, mas pode botar umas dezenas de carros aí”, compara a empreendedora, que hoje produz 40 alimentos orgânicos certificados.
Mas o casal empreendedor não parou por aí. Depois de conseguir, há 5 anos, o selo que permite até a exportação da produção, eles resolveram montar uma mercearia de orgânicos em Fortaleza. “Gente para quem vendíamos aqui na Cidade pedia muito para que tivéssemos um mercadinho em Fortaleza. Então optamos por montar a mercearia Mundo do Orgânico”.
O local escolhido foi a Cidade dos Funcionários, bem perto do Lago Jacarey. “Um lugar com muitas residências e nenhuma loja de orgânico”. Começaram vendendo feijão, banana, hortaliças, mamão, tomate, acerola e até uma simpática abobrinha Copa do Brasil (metade verde, metade amarela). Agora, são 140 produtos orgânicos, passando por 4 tipos de arroz, macarrão, vinhos, óleo de coco e até sabonete e desinfetante.
“O que a gente não produz aqui, importa do Sudeste. Resolvemos variar a oferta, porque a gente quer que o cliente tenha opção, que ele possa resolver tudo no nosso mercado”, afirma Socorro. Ela salienta não ser fácil convencer gente que nunca comeu orgânico a comprar um achocolatado orgânico.
“É por isso que tenho que vender bem meu produto. Acompanhar o cliente na compra e convencê-lo de que está fazendo a melhor opção para saúde dele.
Saiba mais
Os produtos orgânicos são cultivados sem o uso de agrotóxicos, adubos químicos e outras substâncias tóxicas e sintéticas. A ideia é evitar a contaminação dos alimentos ou do meio ambiente. O resultado desse processo são produtos mais saudáveis, nutritivos e com mais qualidade de produção.
O comércio de produtos orgânicos no Brasil, bem como no mundo, depende da relação de confiança entre produtores e consumidores e dos sistemas de controle de qualidade. As leis brasileiras abriram uma exceção à obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para agricultura familiar que hoje pode vender os orgânicos diretamente aos consumidores finais. Para isso, porém, os agricultores precisam estar vinculados a uma Organização de Controle Social (OCS).
O Brasil tem 11.904 unidades de produção controladas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
A área total do País com certificação orgânica é de 1.722.807,80 hectares certificados. No Nordeste, o campeão em número de unidades controladas de cultivo orgânico é o Piauí, com 768 unidades.
O Ceará tem 620 unidades e 18.200 hectares de área cultivada.